Batalha - Opinião

dezembro 08, 2015

Título: Batalha
Autor: David Soares
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 200
Sinopse:
"Em Batalha, David Soares apresenta uma história em que os animais são protagonistas. Passado no início do século XV, Batalha é um romance sombrio, filosófico e comovente, que observa o fenómeno religioso do ponto de vista dos animais e especula sobre o que significa ser-se humano.
Batalha, a ratazana, procura por sentido, numa viagem arrojada que a levará até ao local de construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, o derradeiro projecto do mestre arquitecto Afonso Domingues. 
Entre o romance fantástico e a alegoria hermética, Batalha cruza, com sensibilidade e sofisticação, o encantamento das fábulas com o estilo negro do autor."

Opinião:

Li este livro por impulso. Não o tinha, não estava na minha lista de livros para ler, mas a verdade é que, depois de o pedir emprestado, acabei por lê-lo. E como o meu ritmo de leituras não está a ser grande coisa e o livro é pequeno, achei que seria a coisa mais acertada a fazer.

Batalha é o nome da ratazana protagonista deste livro que se passa no século XV. Todas as personagens, aliás, são animais que se vão cruzando na vida de Batalha e que, de alguma forma, o marcam. Desde pequena que Batalha luta por se afirmar no mundo e por ser acolhida pelos outros: primeiro pela sua família adoptiva de ratos do campo, depois quando se cruza com outros ratos e com outras espécies de animais. A verdade é que ele é diferente, fisicamente, mas também pensa de forma diferente conforme vai absorvendo aquilo que presencia no mundo. E são os momentos marcantes e as personagens que vai conhecendo ao longo da sua vida que são a força motriz da história, e que o encaminham para o local onde a sua vida muda: o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, que está a ser construído.

A obra tem um forte carácter alegórico, dilemas, várias reflexões sobre a vida e a morte, sobre o lugar de cada um no mundo, por mais insignificante que cada um se possa achar. O próprio Batalha é um desses casos: contrariando todas as vicissitudes do seu caminho, contra o início da sua vida, considerado pelo pai adoptivo como cócó, Batalha vinga, aprende, reflecte, luta e vê coisas fantásticas. Este é um livro cheio de momentos crus e violentos, mas ao mesmo tempo de uma notória sensibilidade, quase ternura, que acabam por nos encantar.

Gostei de tudo no livro, da mistura entre crueza e sensibilidade, das divagações existenciais e religiosas, das personagens e até da linguagem erudita com que, por vezes, David Soares nos brinda, que já faz parte da sua imagem de marca enquanto autor. Há imensas passagens dignas de serem aqui citadas, todas ressoam cá dentro porque é fácil identificarmo-nos com elas. É um livro bastante pertinente que nos faz interrogar sobre o mundo que nos rodeia, as nossas acções e atitudes.

É um bom livro, bem escrito, com personagens e momentos marcantes, onde as coisas nos são apresentadas de maneira diferente mas não de forma menos verdadeira.

4/6 - Bom

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